A Floresta da Morte (1/4) - Pedro Pereira

Ivan apertou o casaco com força contra o peito. A neve batida a vento ameaçava gelar-lhe as entranhas a qualquer momento. Maldita a hora em que o patrão o enviara para aquele fim do mundo. Apesar da neve e do vento forte, o dia estava longe de ser frio para o que eram as temperaturas habituais na Sibéria. 

– É este o maldito lugar? 

– Sim, é esta a floresta – respondeu Dimitri, ao companheiro de trabalho. 

Os dois homens afastaram-se do velho carro vermelho e aproximaram-se da orla da floresta de coníferas. 

A floresta era densa, repleta de vegetação alta e de árvores com vários metros de altura. Era impensável penetrar por entre aquela vegetação, ainda mais com aquele tempo. 

– Tens a certeza que o idiota do Ygor fez bem a análise do solo? 

– Absoluta – garantiu Dimitri. 

Ivan trabalhava para uma multinacional russa que explorava minérios valiosos. O seu trabalho era simples, ele e a sua equipa encontravam zonas promissoras para exploração e acompanhavam todo o processo até a instalação da operação estar concluída. A Sibéria era conhecida pelos solos ricos em carvão, ferro, ouro e diamantes. Aquela zona em particular mostrara-se bastante rica em ouro. Pelo menos era o que indicavam as análises de Ygor, o técnico de laboratório que trabalhava na atual equipa de Ivan. 

– Muito bem. Liga aos tipos dos bulldozers. Quero-os amanhã aqui sem falta. Temos de nos livrar de todo este matagal e derrubar as árvores. 

– Derrubar as árvores?! 

Ivan e Dimitri voltaram-se para ver quem falava. À sua frente estava um camponês, um homem na casa dos oitenta anos, mal vestido, de barba branca e semblante carregado. 

– Não podem deitar as árvores abaixo! – protestou na sua voz rouca. 

– E posso saber porquê? – questionou Ivan. 

– A morte abate-se sobre quem perturbar a paz desta floresta. Se enfurecerem o espirito da floresta irão ter de pagar as consequências… Se prezam as vossas vidas, deixem este lugar em paz! 

– Superstições locais – segredou Dimitri. 

– Oiça senhor… 

– Yuri, Yuri Petrovitch. 

– Oiça senhor Petrovitch, o meu patrão comprou estes terrenos por uma bela quantia e tenciona explorá-los. Não se preocupe com a floresta, eu asseguro-lhe de que ela não nos vai fazer mal. Você mora aqui perto? 

O velho apontou para o outro lado da estrada, onde se encontrava uma casa antiga. Pelo aspeto, Ivan quase era capaz de jurar que estava desabitada. 

– Oiçam o que eu vos digo! Se perturbarem a floresta vão pagar o preço com as vossas vidas! 

– Dimitri, não te importas de acompanhar o senhor Petrovitch a casa? 

O homem louro e encorpado agarrou no velho pelo braço e afastou-se em direção à casa em degradação. 

– Doido varrido… – comentou Ivan para si. Voltou-se de novo para a floresta. Passou com a mão pela barba de três dias enquanto estudava mais uma vez o cenário. Iniciaria os trabalhos no dia seguinte. Com sorte, assim que as instalações estivessem prontas, talvez conseguisse que o seu patrão o transferisse para outro local. Aquele inferno gelado no norte da Rússia não era para ele.


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