A Senhora dos Dragões - Inverno - Parte 3/5 - Liliana Novais


Estavam sempre lá dois dragões a guardarem a porta. Ficavam naquele lugar durante uma média de 600 anos e depois mudavam. Estavam sempre lá de forma a evitar que entrasse algo, ou mesmo que algo saísse. Alguns dragões eram destacados como caçadores para lhes levarem comida.
- Aluminir! - Este era o seu nome. - Não sabia que tinham mudado os caçadores, o Uhturu nada nos disse da última vez que cá veio trazer-nos comida há umas semanas atrás. Aconteceu-lhes algo? Vens trazer-nos comida? É que estamos esfomeados, já não comemos nada de jeito há algum tempo e não podemos hibernar enquanto estamos aqui. – Perguntou Hubimel, um dragão rubi, que apresentava uma coloração vermelha escura. Tinha as garras afiadas e era maior que Aluminir. Tinha espigões desde a cabeça até ao fim das costas, e a sua cabeça era mais pontiaguda que a da Aluminir.
Antes que ela tivesse tempo de responder ao que Hubimel que perguntara, um outro dragão, um aqua-marina fêmea, surgiu de dentro do lago. Esta espécie de dragões não consegue voar, é um dragão aquático, mas por seu lado, era o melhor nadador de todas as criaturas aquáticas. Sua coloração era azul, e em vez de asas, tinham uma espécie de barbatana enorme para impulsionar o seu corpo quando nadava, com uns olhos enormes para ver nas cavernas escuras subaquáticas. Era longo e esguio, de forma a poder estreitos rios e também, para serem velozes.
- O que foi Hubimel? Quem é que é esta?
- Sim, Haquarina, deixa-me apresentar uma antiga amiga dos meus tempos de infância, esta é a Aluminir.
- Prazer. Vieste trazer-nos comida? – Inquiriu-a, olhando diretamente, afastando a pupila que protegia os seus olhos debaixo de água.
- Prazer Galtinar.- Que quer dizer guardião da porta. - Peço-vos desculpa mas não venho trazer-vos nada.
- Então porque vieste até cá? - Perguntou Hubimel. No lago, Haquarina agitou-se, não estava a gostar do que ouviu, não fazia sentido visitas, principalmente destas, só os caçadores é que ali iam e mais ninguém, nem mesmo família.
- Se não nos vieste trazer comida, o que vieste aqui fazer? - Perguntou Hubimel.
- Vim aqui para vos pedir que me deixem ir até ao mundo exterior.
- E porque é que havíamos de fazer isso? Consegues dar-nos uma razão plausível? - Resmungou Haquarina.
- Eu vim aqui por desespero. Este é o meu último recurso, já não sei mais o que fazer. Vocês sabem que este Inverno tem sido muito rigoroso, e que tem sido muito difícil encontrar caça de grande porte para alimentarmos as nossas crias…
- Sim sabemos, o Uthuru disse-nos que estava muito complicado lá fora, e por isso iria demorar algum tempo até nos conseguir trazer comida novamente. Foi por isso que achamos que nos vinhas trazer comida. Mas, interrompi-te, continua. – Disse Hubimel.
- Obrigado Hubimel. Tal como estava a dizer, o Inverno está a ser tão rigoroso que não consigo caçar nada para alimentar as minhas crias, e se não conseguir caçar nada, depressa elas acabarão por morrer.
- E o que temos a ver com isso? – Perguntou Haquarina - O que pensas que vais fazer lá fora? Sabes lá se no mundo exterior o Inverno não foi tão rigoroso como aqui. Estás a atirar-te para o desconhecido quando o que devias era fazer era esperar.
- Pelo menos, se for lá fora, estou a tentar fazer algo. Não estou parada a ver as minhas crias a morrerem, não posso ficar parada e deixar isso acontecer. Pelo menos tento caçar algo.
- Mas isso é muito perigoso, se um humano te vê pode alertar alguém e podem matar-te e aí, o que vai ser das tuas crias? – Perguntou Hubimel. – Se te acontece algo lá, estás por tua conta e risco, nenhum de nós te pode ir ajudar. Não nos podemos arriscar no mundo exterior, temos de permanecer mortos para eles, de forma a sobrevivermos.
- Eu sei muito bem disso. Eu terei o máximo de cuidado. Não se esqueçam que são as minhas crias que dependem disso. Não me posso descuidar, eu sei, não é só a minha vida que está em risco assim que passar por aquele portal, sei que arrisco tudo, a minha vida e das minhas crias, que caso eu seja morta ou capturada elas ficam só com o pai, o que é muito difícil. Arrisco também a vida de todos os que habitam esta terra, pois se os Slang – nome que os dragões davam aos humanos que viviam no exterior do mundo mágico - me virem, tentarão descobrir de onde eu vim e podem encontrar este lugar, o que seria catastrófico. Mas mesmo assim, a vida das minhas crias está acima de tudo, e por isso tenho de me arriscar a ir.
- Não é que não entendamos a tua situação, Aluminir. Nós os dois entendemos perfeitamente. – Disse Haquarina. – Mas tenta também te colocar na nossa posição se algo correr mal, quem tem de responder em frente ao conselho somos nós, e somos nós que temos de acartar com a punição que nos incutirem por te termos deixado passar. Tu já estiveste na nossa posição, e sabes bem que o que nos exigem não é nada de mais a não ser protegermos a nossa própria existência. Pelo que uma decisão dessas não deve ser tomada de ânimo leve. Eu e o Hubimel vamos conversar e já te respondemos.
Após uns minutos de conversa os dois dragões viraram-se para Aluminir.
- Sabendo qual é a tua situação, vamos abrir uma exceção. E aceitamos qualquer punição que nos seja incutida. Vai e que tenhas uma boa caçada, e que consigas salvar a tua família.
- Obrigada Galtinar.
As portas massivas começaram a abrir-se lenta e pesarosamente, rangendo devido à falta de uso. O som ecoava por toda a caverna. Era um som que gelaria o sangue aos mais fracos, pois parecia-se com o rugir de guerra de um dragão quando se preparam para esta. Aluminir pensava em como isto passaria despercebida no mundo exterior.
Continua




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